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domingo, 23 de maio de 2010

Essa chuva de verão,

Eu me lembro. Dia após dia, percorremos nossa vida como quem percorre um corredor. Sabem o que é uma chuva de verão? Primeiro, a beleza pura rompendo o céu de verão, esse temor respeitoso que toma conta do coração, sentir-se tão irrisório no próprio centro do sublime, tão frágil e tão repleto da majestade das coisas, siderado, agarrado, radiante pela munificência do mundo. Em seguida, caminhar por um corredor e, de repente, penetrar num quadro de luz. Outra dimensão, certezas que acabam de nascer. O corpo já não é uma ganga, o espírito habita as nuvens, a força da água é dela, dias felizes se anunciam, num novo nascimento.Depois, como as lágrimas, às vezes, quando são redondas, fortes e solitárias, deixam atrás de si uma longa praia lavada de discórdia, a chuva, no verão, varrendo a poeira imóvel é para a alma das criaturas como uma respiração sem fim. Assim, certas chuvas de verão se implantam em nós como um novo coração bate em uníssono com o outro.

                                                                        A elegância do ouriço - Muriel Barbery

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