rascunhe

sábado, 19 de junho de 2010

A estrada estava emburacada. Às vezes não tinha como desviar daqueles terríveis buracos, mesmo estando a pé. A chuva que molhava minha pele se misturava com as lágrimas que viam escorrendo de meus olhos borrados de maquiagem. Gritar não iria adiantar, ninguém iria parar para dar carona. O frio trincava meus ossos já fracos, e não havia nenhuma árvore para me proteger. Os pensamentos viam como lâminas afiadas que cortavam meu interior. A vista já estava embaçada, então resolvi sentar no meio da pista, esperando algum carro passar e me atropelar, mas por incrível que pareça, todos desviavam, mesmo sendo em plena curva. Todos que ali passavam riam da minha tristeza, do meu medo, da minha solidão. Eram risos maléficos, que só me faziam chorar cada vez mais. Já não se tinha mais esperança, já não se tinha mais amor, só o ódio, só a vingança daqueles que me colocaram naquela estrada. Algo estranho aconteceu, algo realmente impossível aconteceu. Pararam um carro e me ofereceram carona. Eu, indefesa, aceitei. Não consegui enchergar a cara do homem, de tamanho embaço estava minha vista, só sei que me aconcheguei naquele banco quentinho e adormeci. Acordei em minha cama, sem saber como cheguei ali. Meus pés já não doíam, as lágrimas já não caíam, não havia frio, não havia ódio nem vingança. Havia amor, alguém me devolveu o amor. Eu sabia, de alguma forma, que era aquele homem. Aquele homem, do qual não consegui a face, Ele, devolveu minha vida.

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